sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Ser o possível a cada momento

30/out: Na primeira explanação do que entendo da minha gagueira, os colegas me parabenizaram. Uma colega disse que está orgulhosa de mim. Respondi que não tenho orgulho. Primeiro porque pra mim orgulho só é bom quando tem a conotação de admiração, pois preciso cuidar para que arrogância não venha a ser negação por compensação novamente, para esconder sentimento de inferioridade. Segundo, porque acho que não entenderam. Agora é que começa o caminho. Antes eu estava feito um cachorro otário correndo atrás do rabo. Agora enxergo meu caminho a trilhar. Terceiro, porque ontem estava cobrando-me por ter montado o quebra-cabeças só agora, depois de velho. Mas alegrei-me em saber que até uma pessoa de 78 pode vir a curar-se da gagueira com sofrimento. E tenho que internalizar bem fundo que sou o possível em cada momento. Só consegui agora, não posso cobrar-me ou culpar-me por não ter entendido isso aos 17. E em quarto, só agora conheci (pessoal ou virtualmente) as pessoas certas no momento certo.

Quando admiti que SOU GAGO foi um alívio. Chorei quando percebi, deixando ir embora todo a angústia. Mas homens não choram não é?! Homens precisam ser fortões, machões né?! Isso foi outra pecinha no meu quebra-cabeças que explicaria parcialmente por que há 4 gagos para 1 gaga (sem essa de menos ou mais dopamina). Uma outra explicação é que os homens precisamos ridicularizar os outros para determinar território e auto-afirmação, o que as mulheres não fazem. Comentei com uma colega isso e ela disse que outro colega gago (que pelo discurso dele me ajudou a perceber tudo isso) chorará um mês quando perceber.

O meu lema era a afirmação de Wendell Johson (1946, p.458): “Se você nunca foi gago não pode ter a mais remota idéia do misterioso poder de desaprovação da sociedade para com isso a que chamam de gagueira. É talvez uma das influências sociais mais desmoralizantes, perplexificantes e aterradoras de nossa cultura”.

Agora meu lema são estas palavras como:
“(...) A questão é que agora eu me permito gaguejar. Ou seja, sei que a disfluência faz parte da fluência. Além de não me martirizar, me culpar, me anular diante da gagueira. Nesses momentos, sei que a gagueira manifestou-se justamente porque eu antecipei-a, previ sua aparição e consequentemente gaguejei. (...)”, Wladimir Damasceno, 14/05/2007.

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