Grosso modo, a fala para os fluentes se dá segundo o seguinte processo: Pensamento -> fala.
Para o gago é um pouquinho mais trabalhoso: Pensamento => desejo de falar => aproximação => não confiança na capacidade de falar => controlar a fala <=> tentar controlar o espontâneo <=> medo de falar <=> antecipar <=> esconder a gagueira <=> vergonha de gaguejar <=> auto-pressão para falar dependendo da situação segundo a subjetividade e história social <=> tentativa de fuga, i.e. de calar <=> evitação <=> ansiedade <=> nervosismo <=> sofrimento (angústia, frustração, amargura, culpa, sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, constrangimento, embaraço) <=> tensão => bloqueio de cordas vocais => esforço para falar => movimentos corporais na tentativa de falar => gagueira.
Lembrando que esse turbilhão vai <=> e volta segundo a auto-pressão para falar dependendo da situação segundo a subjetividade e história social. Quem conseguiria falar bem assim?!
Assim, suponho que a antecipação seja um dos mecanismos para controlar a fala; que o medo é desencadeado pelas lembranças enraizadas de sons/situações que já me causaram vergonha; busco esconder a gagueira, que é a minha vergonha; entro no turbilhão (círculo é pouco) vicioso de não confiança na fala, vários tipos de sofrimento e bloqueios, em que se dá a gagueira. Ou seja, como conseqüências ocorrem os bloqueios.
Isso explicaria porque não tenho bloqueios em certas situações: p.ex., conversas com pessoas que não me sinto julgado. Nessas situações como estou completamente relaxado, entro num círculo virtuoso, pois a fluência traz mais fluência, tenho confiança na fala, não tenho medo, assim não há necessidade de antecipar (controlar), mesmo fonemas muito internalizados que tenho uma crença enraizada que gaguejo, eu 'nem lembro' e não gaguejo.
Nessa visão, ansiedade, medo, nervosismo, problemas emocionais e tantas outras descrições são produtos da gagueira e a intensificam.
Por essa visão, suponho que os bloqueios, repetições e prolongamentos de sons são manifestações da gagueira, bem como as manifestações corporais. Assim, tratar as manifestações, como faz a maioria das fonoaudiólogas, entendo que não é tratamento adequado e internaliza ainda mais a gagueira no indivíduo. Essas fonoaudiólogas deveriam repensar se o que fazem é trabalho, mesmo se suas intenções sejam boas, pois “de boas intenções o inferno está cheio”. Tentar controlar o que deve ser espontâneo (a fala) faz o gago internalizar ainda mais sua auto-imagem de mau falante.
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2 comentários:
Sem comentários. Boquiaberto. Perfeito!
Ainda está por aqui, amigo? Ri com meu comentário acima. Rsrs
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