sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Conscientização

Muitos colegas gagos me perguntam como tratar a ridicularização e o deboche dos outros.

"Na época do Império Romano, os gagos eram exibidos em jaulas e forçados a falar para diversão dos espectadores. Hoje, muito mais civilizados, rimos deles nas histórias em quadrinhos, no cinema, no rádio e na TV". Com essa observação, o médico Charles Van Riper identificou, o que ainda hoje, em pleno século XXI, representa um grande obstáculo nos tratamentos da gagueira: o desrespeito com quem tem o problema.

Após esse texto, uma pessoa fluente comentou que então era pra eu ser comediante. Respondi da seguinte forma:

Oi XXX, Tudo bem? Que bom que te faço rir com algo que sempre me trouxe tanta angustia e que ainda sofro. Imagina se você soubesse tudo que tem para dizer, mas não consegue. Os sons saíssem truncados e com movimentos corporais bizarros. E se na sua vida inteira (infância, adolescência e vida adulta) todos rissem, debochassem e ridicularizassem por causa disso? Você riria de si mesmo? Você ridicularizaria a si mesmo? Você debocharia de si mesmo? É que na mídia, o gago sempre é idiotizado, nas novelas, por humoristas, etc. É sempre motivo de ridicularização. Bom se eu conseguisse rir da minha da mesma forma que você ri. Mas sabe, ainda não consigo. São milhões com esse problema no mundo. Pessoalmente, encontro-me freqüentemente com uns 40 gagos. Nos vários fóruns virtuais pelo mundo, tenho contado com mais de mil. Os sofrimentos são da seguinte forma: vergonha, culpa por não conseguir fazer algo tão “fácil” como falar, sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, angústia, frustração, embaraço, constragimento, amargura. Já conversei com gagos que pensaram em suicídio. Outras pensaram em cortar a língua para “acabar” com a agonia. Wendell Johson (1946, p.458) definiu assim o problema: “Se você nunca foi gago não pode ter a mais remota idéia do misterioso poder de desaprovação da sociedade para com isso a que chamam de gagueira. É talvez uma das influências sociais mais desmoralizantes, perplexificantes e aterradorasde nossa cultura”. Sei que suas palavras não foram por mal. Foi por pura ignorância mesmo, i.e. falta de informação. E é por causa disso que iniciei o blog. Vamos conversar sobre gagueira? Gosto de ti. É que você perceberá a seriedade que trato o assunto. Você me conhece e sabe que sou gago de fala, mas não de cérebro. Fica com Deus.

E tive uma resposta muito educada com um singelo pedido (aceito!) de desculpas.

Tudo bem! A gente precisa é de mais informação :)
Lembro que não é uma característica. É um problema que merece atenção e tentativa de superação.

Um comentário:

Ana Cau disse...

não precisamos só de informação , mas também de RESPEITO e TRATO com as pessoas...
esse modo de pensar nas consequencias da fala e nas coisas boas e "ruins" que podem acontecer segue a metodologia da terapia cognitiva comportamental , não é ? interessante!
legal essa versão das canções...

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