terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Após dois meses

Ainda tenho receio ao descrever isto porque é um assunto muito delicado pra mim, mas lá vai.
Acredito que deixei de gaguejar severamente, principalmente, por "chutar o balde" num assunto em setembro. Com uma gagueira menos severa pude ter oportunidade de experimentar a linha DH. Após dois meses, reinterpretei vários aspectos da gagueira e assim deixei de ser gago em diversas situações. Minha fala é completamente espontânea e não tenho quaisquer bloqueios em várias situações. Apesar de que eu ainda estranhe minha fala fluente, tento logo tirar tal pensamento para que a antecipação não ocupe lugar. Há muitas situações em que nem lembro da gagueira. São situações que ocorrem em horas de conversas com pessoas próximas, pessoas do trabalho e outros colegas em que antes eu até era fluente, mas somente com uma fala muito bem controlada, com substituições, pausas, evitações, etc. A fala controlada é desastrosa para mim porque me faz ter um gasto de energia grande.
No entanto, noutras situações, por exemplo, em conversas com pessoas que não me sinto à vontade, em conversas ao telefone/microfone(msn) eu gaguejo em sons que considero que tenho cismas muito enraizadas, são os casos em que há o R e L na segunda letra. Nessas situações, eu travo feio, mas continuo a fala. É como um carro que não importa se está a 40 ou 120km/h e volta e meia dá umas engasgadas, e continua. Entretanto, ainda sinto medo de conversar, p.ex. com pessoas desconhecidas ao telefone, mas falo. Assim, sou encucado e importo-me muito em relação à forma da minha fala. Mas aprendi o “aceito e continuo”. Aceitar-me gago me faz não ter medo de falar, e assim, falar. Com isso, a fala totalmente fluente e espontânea, sem qualquer antecipação tem sido muito muito mais freqüente que a gagueira. Outro aspecto é que agora consigo perceber quando estou com auto-pressão para ser fluente. Quando antecipo, busco não pensar nas palavras a serem faladas e deixar pra ocasião, apesar disso estar enraizado em mim. Chamo a isso de ligar os alertas e/ou alarmes. Mas atualmente tenho tido sucesso em diversas situações em desligar os alarmes e continuar o discurso. Nessas ocasiões consigo sair ao que chamo de meu turbilhão vicioso de gagueira e volto à minha fala fluente, gaguejada nos sons enraizados. O que é um progresso para mim, pois há situações em que eu travo tanto que balanço o corpo inteiro ao tentar forçar sons a sair: uma gagueira muito severa.
Após esses dois meses, sinto-me mais confortável em relação à minha fala, mas ainda sou muito grilado com a gagueira, tenho medo de falar em público, penso em como falar todos os dias. Quando preciso pedir uma informação ou falar ao telefone, antecipo tudo e fico pensando conscientemente as palavras que serão ditas para pesquisar sons que devo temer, evitar e substituir. Entretanto, já tive oportunidade de falar em público e a fala fluiu, mesmo que gaguejada. Bem, acho que hoje sofro um pouco menos em relação à minha fala.
Além disso, repenso minhas atuais percepções de cobrar-me perfeição em tudo, de exigência comigo mesmo. Não sinto mais a gagueira como uma dor ou um sofrimento. Sinto que a gagueira é só mais um problema e, apesar de desagradável, há problemas muito piores. Hoje falo abertamente sobre minha gagueira para qualquer um. Hoje penso a gagueira com muito mais bom humor e descontração. Apesar de que ainda preciso valorizar mais minha fala fluente do que os momentos de gagueira. É claro que as dúvidas são muitas, p.ex. se seria apenas uma fase boa. Mas essas novas reinterpretações são fundamentalmente baseadas na linha DH. Penso em criar um fórum em que as mensagens possam ser faladas ou tecladas. Afinal, até eu que sou gago sei que falar é muito muito mais fácil que teclar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Gaguejando

Certo colega é, atualmente, a pessoa com quem mais gaguejo. Ele é bacana, mas tem um problema: é inglês. E eu gaguejo muito falando em inglês com ele. Há vários fonemas que tenho dificuldade e daí fico muito mais limitado e com os alertas ligados. Terei que fazer todo um tratamento em inglês :)
Fui selecionado pra ser lecionar no ano que vem, nem sei no que vai dar, depois penso nisso. Mas agora estou precisando mesmo do emprego. Bem, no sábado fui no curso de capacitação (de Pedagogia). Imagina o sufoco! Fiquei a semana inteira preocupado, em como iria apresentar-me
(dizer meu nome, onde iria trabalhar, a disciplina a lecionar, etc), se teria que fazer apresentação de algum assunto, etc. Fui rindo no ônibus, pois se eu gaguejasse muito, o que a coordenadora faria? Ela me tiraria? E pra variar na apresentação fiquei por último, só pra aumentar a agonia. Fiquei naquela: "sou gago mesmo" e minhas mãos não estavam suando nem o coração disparado... e..., fiquei realmente surpreso: apresentei-me sem gaguejar. Não sei o que aconteceu, mas tentei não ficar feliz com isso, logo tentei ficar neutro e prestar atenção na mulher falando.
O curso foi todo criticando os professores que não tem didática. Todos lá eram professores universitários e ótimos fluentes, então um rapaz criticou um professor que teve, excelente técnico, mas segundo ele, ninguém entendia o que falava nem o que escrevia. Ahh não me contive, pedi a palavra e falei que se deve importar com o conteúdo, e quem reclama da forma é que na verdade não entende o conteúdo e que os alunos universitários devem ter iniciativa, que não se deve pegar na mão de todos pra atravessar a rua, mas ensiná-los a atravessar sozinhos. Uns dois discordaram de mim, inclusive a professora do curso... Quis falar da minha gagueira, e que eles falavam aquilo é porque são ótimos fluentes e não entendem as diferenças, mas achei que iria polemizar demais com um asssunto particular...
Depois tivemos que reunir-nos em grupos. Como fui o mais participativo, fui escolhido para falar o assunto pelo grupo. Dá pra acreditar o descaramento deles?! Quando vi aqueles dedos apontando-me, lembrei das quandas vezes fugi das apresentações, então aceitei. Que coisa, mais ansiedade por esperar minha vez pra falar aiai e meu grupo ainda por cima era o último de novo... E todos os representantes dos outros grupos falaram tão bem que foram elogiados pela professora. Ela perguntou se o meu grupo atenderia às expectativas!
Então comecei a falar dizendo que me deram uma imensa responsabilidade e pressão porque os representantes dos outros grupos expressaram-se muito bem. Eu não queria gaguejar, a vergonha daquelas pessoas, então passei a evitar tudo que fosse gaguejar, então minha fala passou a ser patética e em certo momento travei feio... mas continuei... aí um colega do grupo me salvou e começou a falar e depois outro também, então eu também completei e a professora também e foi assim...
Fiquei mal, mas logo pensei: "ahh, sou gago mesmo, deixa pra lá, não posso ficar cobrando-me em ser perfeito ou tão bom quanto os outros". E consegui até o curso acabar. Mas depois fiquei chateado. Só de madrugada é que percebi que eu falara para 20 pessoas... e gaguejando ou não, falara.

Minha auto-pressão para falar

Há algumas semanas percebi que eu estava usando novos truques: gagueira proposital, pensar "dane-se", etc. Como passei a ter tempos de fluência, passei a substituir novamente para não estragar e não deixar a fala descontínua. Então num domingo indo pra missa pensei em não mais usar tais truques. Depois da missa fui "treinar" numa conversa com o padre. Mas depois uma pessoa do meu trabalho com sua esposa me viram e vieram conversar comigo. Deu vontade de fugir, pois eu tinha certeza que gaguejaria. Mas resolvi ficar e "enfrentar". Levei a conversa pro meu assunto predileto: gagueira. E estava com uma gagueira moderada até que ele me perguntou sobre meu trabalho. É que gaguejo muito ao falar do meu trabalho. Gaguejei tanto que fiquei o domingo inteiro chateado, pensando que "regredira um mês". Depois de tanto refletir, supus ter encontrado os motivos, que são subjetivos, por ter gaguejado tanto. Eu me obrigo a ser fluente com pessoas em certas "posições" e o que ela "representa". Aliado ao fato de que eu não conseguir substituir palavras ao explicar meu trabalho porque são termos técnicos e únicos, já os gaguejei muito e ficou incutido em mim a dificuldade de falá-los. Dias depois conversei novamente com a pessoa e expliquei a situação, que não deve ter entendido, mas para mim foi importante. Mesmo o sofrimento foi bom para perceber meus momentos de gagueira severa.
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