quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Minha auto-pressão para falar
Há algumas semanas percebi que eu estava usando novos truques: gagueira proposital, pensar "dane-se", etc. Como passei a ter tempos de fluência, passei a substituir novamente para não estragar e não deixar a fala descontínua. Então num domingo indo pra missa pensei em não mais usar tais truques. Depois da missa fui "treinar" numa conversa com o padre. Mas depois uma pessoa do meu trabalho com sua esposa me viram e vieram conversar comigo. Deu vontade de fugir, pois eu tinha certeza que gaguejaria. Mas resolvi ficar e "enfrentar". Levei a conversa pro meu assunto predileto: gagueira. E estava com uma gagueira moderada até que ele me perguntou sobre meu trabalho. É que gaguejo muito ao falar do meu trabalho. Gaguejei tanto que fiquei o domingo inteiro chateado, pensando que "regredira um mês". Depois de tanto refletir, supus ter encontrado os motivos, que são subjetivos, por ter gaguejado tanto. Eu me obrigo a ser fluente com pessoas em certas "posições" e o que ela "representa". Aliado ao fato de que eu não conseguir substituir palavras ao explicar meu trabalho porque são termos técnicos e únicos, já os gaguejei muito e ficou incutido em mim a dificuldade de falá-los. Dias depois conversei novamente com a pessoa e expliquei a situação, que não deve ter entendido, mas para mim foi importante. Mesmo o sofrimento foi bom para perceber meus momentos de gagueira severa.
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5 comentários:
Eu desencanei faz tempo de tentar controlar minha gagueira através da aplicação dessas teorias psicossociais retrógradas. Elas são puro cocô de professora universitária aposentada e desatualizada.
Depois que entendi melhor as razões biológicas da minha gagueira, parei de rejeitar minha fala, passei a me aceitar mais e deixei de me culpar por ser assim.
Estou me sentindo muito melhor agora.
Renato, muito legal esse seu depoimento. É justamente isso que a teoria desenvolvida pela Fga Silvia Friedman busca em relação a gagueira: desencanar, parar de rejeitar e assim parar tentar controlar a fala. Dessa forma, com o passar do tempo, diminuindo o desejo desenfreado pela fluência, conseguimos ser cada vez mais fluentes. Abraços.
Acho que era justamente às idéias da Silvia Friedman que o Renato estava querendo se referir quando falou de teorias psicossociais que são "puro cocô de professora universitária aposentada e desatualizada".
Também considero a teoria da imagem de mau falante uma fonte inesgotável de culpa para a pessoa que gagueja. Dizer que uma pessoa gagueja porque ela é complexada com sua fala é condenar essa pessoa a um processo de punição psíquica sem fim. Cada ocorrência da gagueira repercutirá nela como um fracasso emocional, uma falha na administração desse "complexo de mau falante". E isso é torturante.
Leo, nesse aspecto, podemos perceber que a fluência existe em nós, e isso é confortante. E também que a gagueira é decorrente de aspectos subjetivos que podem ser abrandados. Assim, pode-se perceber nosso desejo intenso de fluência ou medo de determinadas situações ou condicionamento automatizado, e de tanto repetido, faz pensar que é inato em nós. Sei que é difícil, mas acho que vale a pena prestar atenção nisso.
Abraço.
Leo, é muito interessante (e desesperador) perceber que a gagueira incomoda tanto a várias pessoas e como sua ocorrência é muito parecida em várias pessoas.
Tenho lido vários artigos sobre gagueira para entender o porque dela e tentar me conformar um pouco, mais acho que nunca podemos nos conformar 100% pela existencia da gagueira, porque como dizem os fonoaudiologos: a gagueira é como uma "micose", se você não tratá-la ela vai aumentar.
Uma aspecto muito interessannte e como a gagueira é inconstante, pois tem dias em que ela praticamnete inexiste, mais já em outros dias, prefiro ficar em casa quieto para evitar de gaguejar. Quem é gago, muitas vezes se obrigada a ser otimo (bom não basta) em tudo que faz, como na vida profissional, para poder COMPENSAR a gagueira.
Só quem é gago sabe o quanto é complicado.
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