Ele não aceitava a moça. Ela foi, foi, conversou, conversou, rodou, rodou, artimanhou, manhou, arte e manha, miou, afinal rendeu. Criança de emoções superficiais, rápidas, espontâneas e passageiras, ele cedeu. Aceitou-a.
Fiquei pensando em algo tão definido pelos psicólogos e literatos, porém inesgotável e eterno como o tema humano: a necessidade de ser aceito.
Ser aceito não é receber a concordância. É receber até a discordância, mas dentro de um princípio indefinível
e fluídico de acolhimento prévio e gratuito do que se é como pessoa.
Ser aceito é realizar a plenitude dos sentidos do verbo latino Accipio, que deu origem à palavra portuguesa. Accipio quer dizer: tomar para si; receber, acolher; perceber; ouvir, ouvir dizer; saber; compreender; interpretar; sofrer; experimentar; aprovar; aceitar; estar satisfeito com. Tem vários sentidos, tal e qual essa aceitação misteriosa e empática que alguns nos concedem.
Ser aceito é ser percebido antes de ser entendido. É ser acolhido antes de ser querido. É ser recebido antes de ser conhecido. É ser experimentado antes da experiência. É, pois, um estado de compreensão prévia, que abre caminho para uma posterior concordância ou discordância, sem perda do afeto natural por nossa maneira de ser.
Ser aceito implica mecanismos mais sutis e de maior alcance do que os que derivam da razão. Implica intuição; compreensão milagrosa porque antecipatória; conhecimento efetivo e afetivo do universo interior; compreensão pela fraqueza; cuidado com as cicatrizes e nervos expostos, tolerância com delírio, tolices, medos, desordens, vesícula preguiçosa, medo do dentista ou disritmia.
Ser aceito é ser feliz. Raro, pois. Quer fazer alguém feliz? Aceite-a em profundidade. E depois discorde à vontade. Ela aceitará.
Artur da Távola
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2 comentários:
oie bom dia adorei seu blog tenho uma filha de 9 anos e a pelo menos 6 anos luto com ela para se esntir melhor com sua gagueira.. sabe é muito difiçil pra ela.. mais pra mim acho que é bem mais as pessoas são iginorantes acham que que é algo que faltou na educação da criança.. mais ei que sou grande alicerse dou toda estrutura emoçional que acho q é o que ela mais preçisa.. bjs e boa sorte
Aceitar, acho q vc foi num dos pontos da questão. Aceitar-se a si mesmo. Reconhecer essa fala e não querer enquadrá-la num modelo fluente de fala é reconhecer a nossa individualidade. É não deixar ser oprimido, ser normativizado.Quando essa aceitação acontence se é livre para gaguejar e não ser humilhado nem estigmatizado, pois esses sentimentos são frutos do nosso esforço de adequar-nos e do julgamento dos outros -> viciados num modelo único de fala
Mais uma vez curti seu post
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